domingo, 2 de dezembro de 2012

Devaneio da Semana

"O inferno foi uma ideia nascida em consequência de uma indigestão de torta de maçã; e desde então perpetuou-se através de dispepsias hereditárias, nutridas por meio de ramadãs".
Mobydick, Herman Melville

Ah, se fosse lá Fora...

É hábito de grande parte dos brasileiros crer que o que vem de fora é sempre melhor. E é hábito também as pessoas concordarem com essa máxima, porém afirmar que "mas eu não sou assim...".

Nosso país, com todos os seus problemas sociais, estruturais, culturais, ais e mais ais, é pioneiro e líder em vários segmentos. Exemplos temos vários:  Nosso agronegócio é líder mundial em produtividade e preservação de recursos naturais. Fomos precursores no uso de urnas eleitorais eletrônicas, cuja apuração é das mais rápidas e seguras do mundo. Nosso país é o único dentre os BRICS que cresce com distribuição de renda. Nossa grande vilã, a desigualdade social, cai há 12 anos seguidos. Temos uma das menores taxas de desemprego do mundo. O Brasil é líder mundial em criação de áreas protegidas (75% de toda área global colocada em proteção nos últimos 7 anos está aqui). Nós temos o Pré-Sal (que foi descoberto por uma empresa nacional!). Aqui gozamos de liberdade religiosa, política, sexual e de imprensa. A Europa nos está pedindo ajuda financeira, e o FMI diz que nosso modelo econômico deve servir de exemplo para o mundo. Não temos furacões nem terremotos. Temos a Amazônia e a maior reserva de água potável do mundo. Não entramos em guerra com outra nação há 70 anos. Teremos a Copa do Mundo e Olimpíadas. Só para citar alguns...

Porém, ao se deparar com a primeira situação de descrédito, a associação é inevitável: "Ah, tinha que ser no Brasil"... "Mas se fosse na Europa seria diferente"..."Eta paizinho de 3° mundo"... "Os americanos (sic) são bons mesmo". Alguém já ouviu essas frases antes? Será que algum de nós já não se colocou fazendo uma destas afirmações? E por que será?

Os problemas do Brasil são sérios, e não podemos ignorar. Alguns estão encardidos em nossa sociedade, como a corrupção, ingerência de serviços públicos, falta de formação política, ética e moral dos cidadãos, etc. E, se não forem debatidos ao extremo, nunca serão corrigidos. Mas será que lá fora é mesmo diferente? Fico com a impressão de que, quando lá fora eles erram, há sempre uma justificativa. Mas, quando o erro é nosso, é por culpa simples de sermos assim, brasileiros.

Claro que a mídia ajuda. A pauta de nossa imprensa é apenas de notícias negativas. Isto cria no subconsciente brasileiro a ideia de que tudo está ruim, e que estamos fadados a viver num mundinho de desgraças e decepções. As únicas boas notícias vem do esporte, principalmente de futebol, o que ajuda a fazer com que as pessoas se apeguem neste tema para aliviar a tensão do dia a dia. Além de nos influenciar a sermos uma cultura mono-esportiva, nos distancia da discussão de temas mais importantes, como a política e os valores sociais. Tudo o que absorvemos destes outros temas são notícias negativas que já vem mastigadas prontas para engolirmos e absorvermos como se fossem a verdade única e absoluta sobre os fatos.

Assim vamos nos tornando alienados e ignoramos o fato de sermos uma das nações com mais notícias positivas dos últimos anos. E alguns continuam a bajular culturas estrangeiras que, muitas vezes, nos superam em preconceitos e maus hábitos humanos e sociais. Influência de gerações anteriores, cansadas de desilusões e falta de oportunidade? Ou talvez como uma forma de lavar a alma diante de tantas decepções pessoais, quem sabe? Culpar nosso país pelos nossos próprios fracassos seria uma forma de anestesiar nossa consciência? Faça-se uma pergunta: Se tivesses nascido na Europa ou nos EUA, terias tido mais sucesso ou sido mais feliz?

Bom, mudar isso é difícil. Muito difícil. Mas vale a pena tentar. Falando nisso, segue um link para uma notícia oportuna. Um túnel desabou no Japão matando 5 pessoas e ferindo outras tantas. O número de vítimas deve aumentar, pois o túnel pegou fogo e testemunhas afirmaram ter visto corpos carbonizados. Não houve terremoto nem tempestade. Mas, certamente há uma justificativa plausível, pois os engenheiros japoneses são os melhores (não se lembram de Fukushima?). Eles não são como nós, assim... brasileiros.

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2012-12-02/tunel-desaba-deixando-mortos-e-desaparecidos-no-japao.html

sábado, 12 de maio de 2012

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe

Mandelbrot Fractal (2)

Continuando com os devaneios... vamos a alguns Fractais da vida real... Objetos em que cada parte é subdivida em partes idênticas a si mesma, até o infinito.

 Fractal Natural: Samambaia


Brócolis Romanesco

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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Mandelbrot Fractal (1)

Sabe a criança com brinquedo novo? Pois bem, não consigo parar de olhar essas imagens... Seja pela sua beleza ou pela simbologia, é possível passar bons minutos vislumbrando e/ou viajando em devaneios a seu respeito. São os Fractais.


Wikipédia: Um fractal é um objeto geométrico que pode ser dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao objeto original. Diz-se que os fractais têm infinitos detalhes, são geralmente auto-similares e independem de escala. Em muitos casos um fractal pode ser gerado por um padrão repetido, tipicamente um processo recorrente ou iterativo. O termo foi criado em 1975 por Benoît Mandelbrot, matemático francês nascido na Polónia, que descobriu a geometria fractal na década de 70 do século XX, a partir do adjetivo latino fractus, do verbo frangere, que significa quebrar.Vários tipos de fractais foram originalmente estudados como objetos matemáticos (...).


Auto-similaridade. A imagem que está contida em si mesma. Inevitável é a associação com a nossa vida. Precisamos entender que nossas ações estão presentes em tudo, e que o resultado do que colhemos é exatamente o reflexo destas nossas ações.


Há um sábio provérbio que diz que para se corrigir a sociedade é necessário, primeiro, corrigir o ser humano. Pois não é o ser humano que compõe a sociedade? Envergonha-te da sociedade de classes? Da exclusão social? Do culto à futilidade? Da hipocrisia e falsidade de nossas instituições? Envergonhe-te de ti mesmo, primeiro. Corrija-te, e começarás a corrigir o resto, pois tudo o que criticas, é apenas o espelho de ti e de seus pares. Somos a engrenagem do mecanismo. E o mecanismo não funciona bem se as engrenagens estiverem comprometidas.


E de pensar que um coisa dessas nasceu da necessidade da comprovação de cálculos matemáticos e de experimentos científicos... como é bom aprender coisas novas e navegar no conhecimento...


quinta-feira, 10 de maio de 2012

Devaneio da Semana

O Rancor é uma forma de permitir que seu agressor lhe agrida duas vezes.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Palavra & Poesia

TERAPIA 


Tenho seis balas em meu tambor 
E uma delas é tua, meu amor 
São seis balas, seis apenas 
Para acalmar minha dor pequena 


A Primeira eu sei como usar 
E sei muito bem a quem presentear 
Aos homens sem palavra, tão eloqüêntes 
Que passam a vida parasitando tanta gente 
Aos que pensam que importante é o metal 
Envenenando tanto e causando tanto mal 
Um tiro cego, porém decidido 
Um tiro, eu sei, fará sentido


Tenho cinco balas em meu tambor 
E uma delas é tua, meu amor 
São cinco balas, cinco apenas 
A cortina abre e logo se encena 


Destilo meu veneno já sem muita pressa 
Apresento a minha raiva e a Segunda se endereça 
Ao poder sujo de cartas marcadas 
Que envolve os humildes, humilhando os menores 
Triturando, matando, favorecendo os piores 
Um tiro seco, já faço minha mira 
Um tiro forte que carrega toda minha ira 


Tenho quatro balas em meu tambor 
E uma delas é tua, meu amor 
São quatro balas, quatro apenas 
A noite cai e em breve será plena 


Da minha janela vejo um mundo de aparências 
Aperto o gatilho e a Terceira grita com demência 
Pessoas burras esvaziam seus bolsos, e o que mais? 
Queimam tantos livros enquanto compram seus cristais 
Falando tanto, arrotando ignorância 
Esbanjando suas posses, esbanjando petulância 
Um tiro sim, não há mais tempo a perder 
São tão superficiais, ninguém vai perceber 


Tenho três balas em meu tambor 
E uma delas é tua, meu amor 
São três balas, três apenas 
A morte vem e de longe lhes acena 


A agulha trabalha bem e ainda não descansa 
A Quarta vem feroz e nada a amansa 
Charlatões aos montes explorando gente honesta 
Tirando-lhes o dinheiro, o que nada mais lhe resta 
Mentindo e assaltando em nome de um deus feroz 
Prometendo o Céu, a Terra ou um inferno atroz 
Um tiro brusco, que cause confusão 
Um tiro longo, a libertação 


Tenho duas balas em meu tambor 
E uma delas é tua, meu amor 
São duas balas, duas apenas 
Será mesmo a espada mais frágil que a pena? 


Tento relaxar, ligo minha TV 
Mas o que lá está é difícil de esquecer 
Lavagem cerebral, é como chamo tudo isso 
Lixo cultural, se é que posso chamar lixo 
Superficialidade barata, alienação, ignorância 
Estoura-se a cápsula, a Quinta se liberta 
Uma platéia contratada assiste boquiaberta 


A última ficou para cumprir minha promessa 
Minha jura já vem vindo, não é preciso pressa 
Será uma dádiva, um presente sublime 
Uma prova de amor e não de crime 


Te acordarei ao amanhecer, te trarei o jornal 
Verás como tudo continua igual 
Alisarei teus cabelos, palavras de amor 
Nos meus versos profanos, meus dias de dor 
Chegarei ao teu prédio, subirei as escadas 
E darei, emfim, minha última cartada. 


Nesse mundo louco 
Para curar minha dor 
Não fui ao analista 
Esvaziei o meu tambor. 

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Este poema eu li há muitos anos num site hospedado no Geocities (lembram-se deles?), e o reencontrei agora depois de procurar várias vezes. Na época era assinado por Luiz Fernando Petry Filho, mas não tenho certeza se ele é mesmo o compositor. De qualquer forma, ajudou em minha formação como cidadão, no que tange ao inconformismo com as várias coisas que existem de errado em nossa sociedade.