segunda-feira, 7 de maio de 2012

Palavra & Poesia

TERAPIA 


Tenho seis balas em meu tambor 
E uma delas é tua, meu amor 
São seis balas, seis apenas 
Para acalmar minha dor pequena 


A Primeira eu sei como usar 
E sei muito bem a quem presentear 
Aos homens sem palavra, tão eloqüêntes 
Que passam a vida parasitando tanta gente 
Aos que pensam que importante é o metal 
Envenenando tanto e causando tanto mal 
Um tiro cego, porém decidido 
Um tiro, eu sei, fará sentido


Tenho cinco balas em meu tambor 
E uma delas é tua, meu amor 
São cinco balas, cinco apenas 
A cortina abre e logo se encena 


Destilo meu veneno já sem muita pressa 
Apresento a minha raiva e a Segunda se endereça 
Ao poder sujo de cartas marcadas 
Que envolve os humildes, humilhando os menores 
Triturando, matando, favorecendo os piores 
Um tiro seco, já faço minha mira 
Um tiro forte que carrega toda minha ira 


Tenho quatro balas em meu tambor 
E uma delas é tua, meu amor 
São quatro balas, quatro apenas 
A noite cai e em breve será plena 


Da minha janela vejo um mundo de aparências 
Aperto o gatilho e a Terceira grita com demência 
Pessoas burras esvaziam seus bolsos, e o que mais? 
Queimam tantos livros enquanto compram seus cristais 
Falando tanto, arrotando ignorância 
Esbanjando suas posses, esbanjando petulância 
Um tiro sim, não há mais tempo a perder 
São tão superficiais, ninguém vai perceber 


Tenho três balas em meu tambor 
E uma delas é tua, meu amor 
São três balas, três apenas 
A morte vem e de longe lhes acena 


A agulha trabalha bem e ainda não descansa 
A Quarta vem feroz e nada a amansa 
Charlatões aos montes explorando gente honesta 
Tirando-lhes o dinheiro, o que nada mais lhe resta 
Mentindo e assaltando em nome de um deus feroz 
Prometendo o Céu, a Terra ou um inferno atroz 
Um tiro brusco, que cause confusão 
Um tiro longo, a libertação 


Tenho duas balas em meu tambor 
E uma delas é tua, meu amor 
São duas balas, duas apenas 
Será mesmo a espada mais frágil que a pena? 


Tento relaxar, ligo minha TV 
Mas o que lá está é difícil de esquecer 
Lavagem cerebral, é como chamo tudo isso 
Lixo cultural, se é que posso chamar lixo 
Superficialidade barata, alienação, ignorância 
Estoura-se a cápsula, a Quinta se liberta 
Uma platéia contratada assiste boquiaberta 


A última ficou para cumprir minha promessa 
Minha jura já vem vindo, não é preciso pressa 
Será uma dádiva, um presente sublime 
Uma prova de amor e não de crime 


Te acordarei ao amanhecer, te trarei o jornal 
Verás como tudo continua igual 
Alisarei teus cabelos, palavras de amor 
Nos meus versos profanos, meus dias de dor 
Chegarei ao teu prédio, subirei as escadas 
E darei, emfim, minha última cartada. 


Nesse mundo louco 
Para curar minha dor 
Não fui ao analista 
Esvaziei o meu tambor. 

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Este poema eu li há muitos anos num site hospedado no Geocities (lembram-se deles?), e o reencontrei agora depois de procurar várias vezes. Na época era assinado por Luiz Fernando Petry Filho, mas não tenho certeza se ele é mesmo o compositor. De qualquer forma, ajudou em minha formação como cidadão, no que tange ao inconformismo com as várias coisas que existem de errado em nossa sociedade.

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