TERAPIA
Tenho seis balas em meu tambor
E uma delas é tua, meu amor
São seis balas, seis apenas
Para acalmar minha dor pequena
A Primeira eu sei como usar
E sei muito bem a quem presentear
Aos homens sem palavra, tão eloqüêntes
Que passam a vida parasitando tanta gente
Aos que pensam que importante é o metal
Envenenando tanto e causando tanto mal
Um tiro cego, porém decidido
Um tiro, eu sei, fará sentido
Tenho cinco balas em meu tambor
E uma delas é tua, meu amor
São cinco balas, cinco apenas
A cortina abre e logo se encena
Destilo meu veneno já sem muita pressa
Apresento a minha raiva e a Segunda se endereça
Ao poder sujo de cartas marcadas
Que envolve os humildes, humilhando os menores
Triturando, matando, favorecendo os piores
Um tiro seco, já faço minha mira
Um tiro forte que carrega toda minha ira
Tenho quatro balas em meu tambor
E uma delas é tua, meu amor
São quatro balas, quatro apenas
A noite cai e em breve será plena
Da minha janela vejo um mundo de aparências
Aperto o gatilho e a Terceira grita com demência
Pessoas burras esvaziam seus bolsos, e o que mais?
Queimam tantos livros enquanto compram seus cristais
Falando tanto, arrotando ignorância
Esbanjando suas posses, esbanjando petulância
Um tiro sim, não há mais tempo a perder
São tão superficiais, ninguém vai perceber
Tenho três balas em meu tambor
E uma delas é tua, meu amor
São três balas, três apenas
A morte vem e de longe lhes acena
A agulha trabalha bem e ainda não descansa
A Quarta vem feroz e nada a amansa
Charlatões aos montes explorando gente honesta
Tirando-lhes o dinheiro, o que nada mais lhe resta
Mentindo e assaltando em nome de um deus feroz
Prometendo o Céu, a Terra ou um inferno atroz
Um tiro brusco, que cause confusão
Um tiro longo, a libertação
Tenho duas balas em meu tambor
E uma delas é tua, meu amor
São duas balas, duas apenas
Será mesmo a espada mais frágil que a pena?
Tento relaxar, ligo minha TV
Mas o que lá está é difícil de esquecer
Lavagem cerebral, é como chamo tudo isso
Lixo cultural, se é que posso chamar lixo
Superficialidade barata, alienação, ignorância
Estoura-se a cápsula, a Quinta se liberta
Uma platéia contratada assiste boquiaberta
A última ficou para cumprir minha promessa
Minha jura já vem vindo, não é preciso pressa
Será uma dádiva, um presente sublime
Uma prova de amor e não de crime
Te acordarei ao amanhecer, te trarei o jornal
Verás como tudo continua igual
Alisarei teus cabelos, palavras de amor
Nos meus versos profanos, meus dias de dor
Chegarei ao teu prédio, subirei as escadas
E darei, emfim, minha última cartada.
Nesse mundo louco
Para curar minha dor
Não fui ao analista
Esvaziei o meu tambor.
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Este poema eu li há muitos anos num site hospedado no Geocities (lembram-se deles?), e o reencontrei agora depois de procurar várias vezes. Na época era assinado por Luiz Fernando Petry Filho, mas não tenho certeza se ele é mesmo o compositor. De qualquer forma, ajudou em minha formação como cidadão, no que tange ao inconformismo com as várias coisas que existem de errado em nossa sociedade.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
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