terça-feira, 2 de junho de 2009

Acidente Aéreo. Incidente Humano!

Em busca de novidades em canais de informações sobre o avião que desapareceu em alto-mar, saltava de canal a canal em busca de notícias, alimento para minha alma, ávida por saber se havia ou não sobreviventes. Eis que, após manhã e tarde alternando entre CNN, CNN em Espanhol, Band News e sítios de notícias da rede, decidi sintonizar na rede aberta de TV. Após suportar não mais que 1 minuto na Record, que explorava o sofrimento das famílias e uma declaração de uma mãe desconsolada, desisti e retornei aos canais fechados. No final da noite, quase madrugada de terça-feira, submeti-me a uma experiência calculada. Há pelo menos 2 anos eu não assistia ao Jornal da Globo. Por motivos vários, mas principalmente por não mais suportar a linha editorial adotada por este "jornalístico" tendencioso, imparcial e indígno de sua audiência: telespectadores que chegam em casa cansados após um dia longo de trabalho e trânsito insuportável, a ponto de não ter disposição para raciocinar com suas próprias mentes, e absorvem as análises mastigadas por ratos de redação, que seguem avidamente as orientações de seu diretor geral, Carlos Henrique Schroder.

Não demorou, e uma passagem na matéria deste "jornalístico" me chamou a atenção. Uma verdadeira melação ao presidente francês, Nicolas Sarkozy, destacando "sua postura séria e franca, principalmente vinda do presidente de um país que trata o tráfego aéreo com seriedade". Na sequência, uma declaração do presidente Lula, dizendo que "nestas horas só nos resta lamentar". Para quem não viu as declarações completas (obviamente em outro meio de comunicação), a impressão que fica é que a França é um país mais sério que o Brasil por causa de seu presidente, que é íntegro e sério, enquanto que no Brasil o fráfego aéreo é o `samba do crioulo-doido´ porque nosso presidente é o Lula, e não Sarkozy. Próprio do Jornal da Globo: jamais perder uma oportunidade de cutucar este governo, mesmo que, para isso, tenha de destilar indiferença sobre aqueles que padeçam sob quaisquer motivos.

A despeito da "experiência calculada", explico. Quando se tem acesso a meios como CNN, BandNews e principalmente a internet, é desnecessário informar-se pela TV aberta. Aliás, é desaconselhável informar-se por ela em qualquer circunstância. No entanto, quando já se obteve a informação genuína, fica mais clara a distorção que um editorial é capaz de fazer. Na edição das imagens, ignorou-se o agradecimento do presidente francês ao governo brasileiro, pela agilidade no envio de aviões para a área afetada, e as declarações de Lula sobre a ordem para um avião brasileiro Hércules deixar sua carga em La Paz e dirigir-se imediatamente para a região em busca de sobreviventes, antes de sua declaração sobre "nestas horas só nos resta lementar". Foi, aliás, um avião Hércules o responsável por encontrar os primeiros destroços do Aibus. Poupou-se também a falta de humanismo do presidente Sarkozy, ao declarar que o único objetivo francês era a recuperação da caixa-preta e celebrar uma missa aos mortos do vôo, antes mesmo de se encontrarem os primeiros destroços do avião ou descartar-se a existência de sobreviventes.

228 pessoas caíram no mar e provavelmente morreram, e ecoam no coração de seres humanos(?) forças para usar da mídia para reverter a desgraça de uns em revés político de outros. Assim como a quem assistir ao Bom dia Brasil (ou seria Bom Dia Classe Média-Alta-Burguesa?) e não reparar em como os âncoras(!) deste programa destilam em seus comentários uma torcida intrínseca de que, de alguma forma, o acidente tivesse alguma ligação com erros dos controladores de vôo. Da mesma forma, admito que torci, num segundo momento, para que não houvesse relação nenhuma, para não poluir a disputa política que se aproxima. Claro que, primeiramente, torci para que a aeronave tivesse aterrisado e todos estivessem a salvo.

Mas que humanismo é este que nos faz esquecer daquilo que nos é primordial, a vida, em benefício de aspirações egoístas e secundárias do jogo político? E enquanto aos mortos? E aos vivos? E a culpa, é de quem? Enquanto alguns lutam seus mortos e outros se equilibram num fio de esperança, a maioria de nós se empenha em explicar o ainda inexplicável, a oposição pensa em como responsabilizar o governo, e este por sua vez agradece por não ter de conduzir as investigações do acidente e tira o corpo fora, como se o desaparecimento de 58 brasileiros não fossem suficientes para exigir de nosso Governo uma postura mais firme desde já.

Mas estamos em 2009, e há muito em jogo. Cada escorregão pode custar caro ano que vem. E cada passo tem de ser bem planejado. A despeito de 228 vidas. Porque o poder é mais importante que todo o resto, quando o resto é a vida alheia. E este é o nosso Incidente Humano.

The End?

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